MARCAS MEMORIAIS

A chuva escorre por uma de minhas facetas

Contorna e acolhe o corpo que se esqueceu de cansar

Goteja pelas mãos agora encharcadas

Mãos que carregam cicatrizes

Escaras que me recordam daquele negro sorriso

Expressão irônica do demônio que há muito tranquei

Criatura que ainda grita e convulsiona nos porões do meu ser

Que compõe notas caóticas com as correntes que lhe amarrei

Numa melodiosa cacofonia sem fim

Calendários se perderam na batalha…

No tempo em que esse espectro turvo se rejubilava

Com cada gota rubra-cintilante derramada

Sorria em escárnio com seus dentes encardidos

E me alfinetava com seus mesmerizantes sussurros gemidos

Nesta guerra, por ora, a batalha está ganha

O atroz arlequim agora ri desesperado e trancado na escuridão

As marcas nos punhos fazem o seu papel nessa peça

Lembram-me de mantê-lo preso

Lembram-me da cor das cinzas invadida pelo vermelho vão…

Mas agora preocupação não há

A chuva me espera e volto a andar

Quem ri agora sou eu

E a este debochado demônio…

Só lhe resta gritar e espernear