Analogia poética de um insensato

Como quem se levanta do túmulo mais profundo e alarga ainda mais o estrondo do existir sob um céu magnético escurecido.

Como quem navega em um oceano de encantos e desencantos na angústia explosiva da vida no limite certo.

Como quem desata o último nó de um desejo ferido e retrocedido a todo tempo.

Como quem soluça secamente e chora em seu próprio canto de amargura e sofrimento engasgado pela esperança que não vingou.

Como quem nada diz e fica a espera de alguma coisa que faça sentido imediato, no entanto, não se ouve mais que alguns ecos no fel da noite densa e fria.

Como quem recita um poema doce e melancólico e retira dos ouvidos desatentos a atenção merecida.

Como quem destila as lágrimas recolhidas e transforma em cristais de transparência pura.

Como quem soletra a existência e descobre de súbito que não se sabe soletrar mais que duas silabas.

Como quem vaga solitário a procura de um encanto fatal.

Como quem caminha devagar tropeçando nas próprias passadas incertas de cada avançar.

Como que senta a beira do abismo para pensar sobre o que ainda não é ou no que ainda não foi e não será.

Como quem sobrevive aos gritos e empurrões

Como quem nada sente a vida inteira;

Como quem não impulsiona o existir;

Como quem não experimenta o próprio tempero;

Como quem nunca gritou pelo menos uma vez: “avante”!

Como quem insulta e chora.

Como quem recita um poema como este cheio de vagas lamentações, palavras trôpegas, versos desleixados e mudos.