O eu que já se foi

Eu não sou mais aquele menino sentado à beira da estrada saboreando a vida.

Eu não sou mais aquele sonhador esquecido na terra do imaginar sem fim

Eu não sou mais aquele garoto com seu velho cão a brincar no quintal de casa.

Eu não sou mais aquele adolescente em cima do muro vendo sua primeira mulher nua.

Eu não sou mais aquela figura imaginativa a olhar pra lua em tempos de febre no laço familiar

O que tenho agora além do copo de cerveja e da memória rasgada, indesejada pelo próprio eu?

O sentimentalismo se foi desconfigurado, vagando na infernal arte de sobreviver.

Eu não tenho mais a certeza de dias melhores

Eu não tenho mais a paciência em meus braços

Eu não sou mais a flecha viajando em direção ao alvo

Eu não tenho mais o arco, perdeu-se em meio à bagunça existencial.

Eu não carrego mais o lampião entre corredores escuros

Eu não sou mais iluminado pelo lampião

Eu não sou mais o menino;

Eu não sou mais o garoto;

Eu não sou mais;

Eu não sou

eu