Olhos de poeta

 
 
Instrumento de trabalho: papel e caneta
Qual presente, ardente, brumado estaria.
Atento, olho a vida vivida arredor
E traço no compasso da pauta a poesia.
Falo do que vejo ou percebo sem olhar
Não sou mago maluco ou ilustre profeta,
Nem caminho ou rastejo para este cortejo.
Sou um simples ninguém, ou mísero poeta.
 
Venho, vôo, vejo vida... Gostosura! Travessura.
Solidão na multidão, as escuras, não vê.
Podem falar que é insana profana loucura
O que estou porventura tentando a dizer.
Já que digo sem desdigo, ou perigo pra verdade!
Que somente um poeta, (ou louco) faria
Da fome, da peste, da guerra, da morte...
Uma doce, bela e suculenta poesia.
 
Sonhos, sabedoria, sentimento, sofrimento...
Transitou nos fluidos, eu percebo e traço.
Vejo sem meus olhos um pouco do Tudo
E n’Ele certamente não há embaraço.
Posso falar com ternura, arrogância, brandura,
Alegria, força, medo, insegurança...
Do absoluto relativo, dos seres no mundo,
De quem vive, ou revive, com ou sem lembrança.
 
Olho com outros olhos a vida com mais clareza,
Um pouco do troco que a passar se vinhas.
Quem sabe, porventura, talvez, escrever
As ações de quem um dia irá ler estas linhas.
Corro para o descanso, no leito, reverso
Apenas um instante eu vou parar de escrever.
É imensurável e sempre vivo o eterno universo,
Encontro-te nos sonhos. Vamos ver o que se ler.
(19/10/1996)