"Retiro ou Fuga?"
O mundo dos sonhos atravessa rochas,
São extensas muralhas, aos homens, intransponíveis.
Corta os rios, as matas, cachoeiras,
Vagueia pelos ares, mares,
Indo misturar-se à poeira.
Mui vasto esse mundo, o dos sonhos!
Mui poderoso também, embora construído
De querências, ilusões, desprovido de rancores,
Sua sina é evaporar-se na areia!
Sonhos que voam beirando as margens,
Escorregando aqui e ali
Transformam pavores e mágoas
Em dias de novo porvir!
Passageiros dessa nau,
Navegantes desse mar de sonhos,
Seguem acasalados às suaves maresias.
Banham-se e salgam-se com primorosa maestria.
Habitam esse paraíso letárgico
Todas nossas sonhadas fantasias,
Delírios ricos de quimeras,
Ansiando um viver doce e ameno.
Habitamos nesse mundo utópico
De sabor que sobrepuja as intempéries
Desse nosso malgrado cotidiano,
Realçado de parcas alegrias.
Já, sem atmosfera!
Eu, retirante, seguirei!
Sonhos deixados em qualquer travesseiro
De noite mal dormida quando a pensar na vida,
Somente dormir queria!
Final desse tempo visível,
Marcado com os sinais do desgosto,
Repleto de cenas de horrores.
Debruçar-me-ei à janela!
Ficarei a observar o sol
A se por lá ao longe.
Para onde sem receio
Migrarei em meu retiro.
Verei apenas o lúdico,
Sonharei com lembranças de bonança.
Darei um basta na consciência,
Deixarei esse mundo de prepotência!
Voando, sonharei
E nas veredas do caminho.
Ainda questionarei comigo:
Será isso retiro ou fuga?
Eliana Braga
Gaivot@
17-03-07