Monólogo

Eu quero falar,

Mas todos estão ocupados,

Preocupados demais com a vida deles

Esquecem-se dos outros.

Cada um é cada um,

E eu não tiro a razão deles.

Eu só quero desabafar.

Não há tempo para aquelas histórias trágicas.

Talvez saber da fofoca da vizinha,

Da mulher do outro lado do mundo.

Deu em todos jornais, virtuais.

Famosos sem privacidade

Se perguntam:

Qual será o próximo passo agora?

E antes de tudo,

Todos já sabem a resposta.

Ditam sua fala em todas as cenas.

A vida virou um roteiro de filme.

Ganhará bilhões e um trófeu no Oscar

Se vendendo nas bilheterias.

Eu compro a passagem pro futuro.

Eu vendo o meu passado.

Apago as lembranças

E parto pro novo mundo...

Serei o robô obediente,

Sem mente, sem fala.

Cinema mudo.

Preto e branco.

Cinza. Escuro.

Imagens distorcidas.

Chuviscos.

Atrapalham a realidade.

Eu só quero ser ouvida...

Fones de ouvido no último volume.

Pessoas esquecidas.

Cenas perdidas.

Relógios apressados.

Compromissos, atrasos.

Eu quero o tempo.

Parar o tempo!

Minha única certeza:

Com ou sem tempo,

Cedo ou tarde,

Vem a morte.

Eu quero falar...

Antes da morte.