PORTO AÉREO

Tem algumas luzes na pista pra sinalizar à quem chega

Pousos rasos, viagens agendadas em longas datas

Pastas e documentos para indenizar nossa vontade de chegar...

Vontade de estar perto de quem nos importa

Novas portas de nós mesmos...

Camufladas em rostos famintos, sorrisos distintos

Instintos a flor da pele, antes que atropele algum sentimento quero me recompor

Compor alguns versos aqui mesmo, no mesmo dia...

No meio da multidão, já estou a ouvir um som...

Parece cordas de violão, com sentimentos diferentes dos meus

Mas mesmo assim ainda dizem palavras que gostaria de ouvir

Desde de que cheguei, a espera me é grande...

"Logo estarei no Canadá..."

"Vou comprar uma casa na Austrália, ou talvez nos Andes..."

Imagino todos esses pensamentos diferentes dos meus

Antes de acordar eu tive sonhos de lugares que nunca visitei

Acordei sorrindo, sem saber se serei o mesmo rei...

Se meu reino vai chegar até o horizonte,

Se vou escalar algum monte ou ficar no vão

Ou apenas fazer algumas escalas do violão,

Ainda vão ter algumas escalas até meu destino final...

Uma dor súbita corrói a minha parede estomacal

As cordas vibram para emitir um som, mas muita pouca atenção lhe é voltada

Um anti-ácido em um pouco de água parada e já me vem um rosto

Um gosto amargo, essa dor me tirou o resto de conforto...

Nada de saudável nesse aeroporto

Tantas palavras ecoam nesse hangar de sensações

Tem frustrações guardadas em malas grandes

Esteiras-rolantes-convergentes, embrulhos e presentes

Souvenires embrulhados em papel de amizade que nos abrange

Tem tantas luzes piscando ao mesmo tempo

Vozes apontando novas direções ou destinos

As mãos formigam, aperto sob barriga e intestino

Cidades grandes, estranhas culturas aparecem em repentino

Tantas pessoas diferentes em continentes conhecidos

Desconhecidos disputando segundos de espera...

Alguém vai ocupar o espaço que ocupei em minha casa

A espera começa a queimar em brasa...

Ainda não sei se não...

Ou qual portão vai ser o embarque...

Um prejuízo sentimental que não quero que arque,

As mãos não costumam suar tanto

Deitei alguns minutos ali no canto...

Mas parece que o tempo passa mais devagar

Quando se tem medo de voar...