Homem-bicho

Homem-ovelha

Pelo sedoso

Docilmente obediente

Criado a grama de boa qualidade

Reunindo-se à tarde com os companheiros

Para comer e beber e balir banalidades

No estridente e aconchegante "Aprisco's Bar".

Homem-rã

Pele escamosa

Fixamente fita à frente

Vagueando por seu mundo, saltitante

Coaxando suas limitações

A sinfonia de uma nota só

Repetitivamente enfadonha.

Homem-leão

Ostentando sua altivez

Juba real do rei displicente

Belicosamente

Chama a todos pra porrada

Exercita seus músculos

Devora-se a si mesmo, no espelho.

Homem-macaco

Hilário, pateta, palhaço, histrião

Faz malabarismos a torto e a direito

Diverte os concidadãos

Sua vida é um espetáculo

Um eterno picadeiro

Disfarça a tristeza com suas proezas.

Homem-burro

Trabalha doze horas por dia

Recebe o salário no final do mês

Compra comida para sua família

Transporta o peso da responsabilidade

Marido, pai, chefe de família

Verga sob o peso dos anos... e da vergasta.

Homem-humano

Fabrica armas de destruição em massa

Cria leis para punir os bons populares

Distribui presentes a seus eleitores

Humilha os pseudo-inferiores

Alimenta-se fartamente, ignora os miseráveis

Besta assassina, abjecto, sem-vergonha

Ruborizados e tristes, os animais se afastam

Ante o advento de seu representante-mor

O inigualável, o inexorável... bicho-homem.

CARLOS CRUZ - 29/03/2007