A gravidez do poeta

No caminho para o trabalho

na madrugada quando o sono não bate na porta

no banheiro quando o chuveiro chove

em qualquer lugar quando a mente ligeiramente se distrai

essa é a rotina do pescador de palavras.

A inspiração começa percorrendo tímidas linhas

Foge do nada

E em algum lugar inesperado ela aparece

E se torna magistralmente bem vinda.

No ritmo da palavra certa

Seguindo o som aberto das metáforas ocasionais.

A poeira da imaginação vai te levando

Te levando até o limite dos pensamentos

Tornarem-se fetos e ganharem vida.

A grande gravidez do poeta.

Carrega por nove meses a inspiração viva

Os sentimentos e os resguardos de viver

E a necessidade de parir, a dor do parto

Faz-se em qualquer lugar, inesperadamente.

Então, eis ai o nascimento.

Eis a dor

Eis a cria.