Olhos Cegos
O trânsito estava horrível
E logo pela manhã já fazia calor.
Pelo vidro do carro olhou
Uma criança suja e mal vestida,
A pedir-lhe uma moeda...
Não abriu a janela.
Na porta do hospital,
Via, mesmo fingindo não ver,
Rostos sofridos, macerados.
Faces lavadas de qualquer esperança,
Semblantes de dor...desalento, horror.
No consultório da ala particular,
Defrontava-se com belas maquiagens,
A esconder bobagens de sonhos
Siliconados...anos abafados,
Silhuetas sem amor...sonhos de solidão.
No restaurante...olhares de fome
Lá fora,
E vistas de gula e desperdício
Lá dentro...um lamento.
No Banco...Sentado em sala Vip via,
Nas filas, Expressões de traços honestos,
Sufocados pela fome especulativa,
Gente trabalhadora, gente altiva,
Gente que não pára, que trabalha,
Que é devedor mas tem
Vergonha na cara.
Nos calçadões...olhinhos perdidos,
Abandono, de sorte falidos.
Olhinhos sem amor...
Olhinhos sem lar...
Olhinhos sem escola...
Olhinhos de droga, de cola...
Olhinhos que são...simplesmente são,
Onde ´cínicos, seguem sem sentido
Os olhos da sociedade sem piedade,
Dizendo que nunca viu olhos de anjos,
Nunca viu o rosto...de lágrimas sulcado,
Do Deus cruxificado no mundo,
E que, pelo seu coração...
Aqui jaz Abandonado.