ambiguidade de um futuro incerto
Nada serei, senão um reflexo da frustração de não ter sido.
Nada sentirei, senão remorso pelos planos irrealizados, os afagos não dados.
Ah! Como doerá o peso de ver os melhores perfumes sendo apreciados aquém da minha presença.
Ficarei imersa e inebriada num cheiro fantasioso que só eu reconheço, pois não me permiti sentir o aroma de algo real.
Só me restará a lembrança desconfigurada, e totalmente nula, das minhas utopias.
Me contentarei com a sensação de saber que posso caminhar, mas não darei um passo sequer.
Repousarei meus olhos cansados em algum horizonte azul, e farei planos pra um futuro, que na verdade já virou até passado, e continua abstrato.
Numa manhã qualquer, saltarei da cama, e num insight poderei visualizar o irreversível tempo que perdi.
E nada será pior que acordar de um sono platônico e bater a cabeça no concreto.
Irei me descompor, me desbotar no mofo das minhas memórias, e remoer a insatisfação de uma existência inválida.
(Mas, o futuro ainda é distante como um borrão, falho como um piano velho que toca sempre a mesma nota. Cabe a mim o foco, a melodia, e o dedilhado. A canção da minha vida não merece ser tão fúnebre.)