Mesa

Tudo que ela não queria era ser uma mesa:

a integração dos gestos solitários,

o acompanhamento semi-fúnebre das horas sapienciais,

as sóbrias ligações entre-mãos,

a cumplicidade da finalização do prato.

Não quis ser mesa

com a mesma certeza que não se vai ao convés contemplar o infinito...

quando não se tem a dupla-chama.

Não quis congregar cadeira.

Não quis escorar a porta.

Não quis segurar a horta.

Não quis ser habitada.

Entre o silêncio de um não, uma mesa sozinha falava:

— triste é saber da causa do meu nunca-amada.

Olavo Barreto
Enviado por Olavo Barreto em 05/11/2013
Código do texto: T4557941
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