Tempo...

...tive uma conversa amistosa com o Tempo e acordamos,

aceito a deleteriedade do corpo,

os cabelos brancos, não importa quantos,

as limitações no andar,

todas as rugas no rosto,

a audição, visão, tato, olfato e paladar precários,

mas, preserva-me a lucidez,

um mínimo de independência e autonomia,

a imprescindível sensibilidade para não ferir ninguém,

que possa perdoar e pedir perdão,

sentir alegrias, tristezas e amor,

derramando assim, espontaneamente,

as lágrimas que aliviam,

o completo desapego de tudo que não me fará falta

na vida que se seguirá,

aceitar e sofrer a indiferença sem o ser,

reconhecer os velhos amigos e,

por fim,

que tenha a humildade,

que me permita uma serena desconstrução e reconstrução a cada novo

saber, até o último suspiro, ainda com todo o amor...