O CARRILHÃO DO TEMPO
Batem as horas no velho carrilhão,
Estranho observatório da realidade
O dia baço é um arco retesado
Estressado no ângulo do sol
Cheio de tédio, quase eterno
As horas vazam dos ponteiros
Como se fossem algo líquido
Para desaparecerem dentro de nós
Expondo a bizarra ambiguidade
De vivermos e morrermos a cada segundo
Somos refém de toda impossibilidade
Que construímos com a negação e o silencio
O tempo é um poço sem fundo, profundo
Onde nossa alma se esconde e expõe
A orfandade dos nossos desejos
O que vaza do relógio é a matéria
De que é feita a vida, enquanto
A alma tecida de pensamentos
Não depende do tempo e anda
Pelas mãos do sentir, por isso é eterna
Estamos preso num trem feito de horas
Nosso canto não pode ser ouvido
Porque falamos ao mundo pelos sentimentos
Pela linguagem da vagarosa da poesia
E tudo passa por nós muito depressa!