Fracasso

Ímpeto !

Eis o que tenho, indescritível

Na aurora que não se adormece

Estremece, se esquece

Num quase instinto

Mas o que faço aqui, se não sei

Versejar?

Entre narizes fétidos,

Essa repugnância

O cheiro vem de fora, vem de dentro?

De onde vem o terrível rastro tépido

Dessa minha instância ?

Desentendimento !

Os narizes nada mais fazem

Senão farejar

E vai o dia, e fica a noite

E volta o chicote, estala, desperta!

Se aquieta...

Volta o gemido do açoite

Meu Deus, perdoa meu coração coitado

Jogado e surrado

Pois desperdiço a noite

Imaculada

Sem saber versejar

E tudo o que tenho é senão o que ofereço

Num mísero desprezo

O mundo é mundo pois assim deve ser

Portanto, é o que mereço

O pouco que é bastante,

Um respirar ofegante

Pensando ser o desespero,

Tráfico negreiro, costumeiro - vida

Acostumo -me

Pensado viver

Mas no dia, a vida vadia...

É tempo de se enganar!

Eu rasgo meus trapos

Eu bato os sapatos

Eu entro nas casas sem pedir licença

O dia impede meu versejar

E jogo os pratos,

E desfaço -lhes as crenças

Pois fui polida, e embora rasgasse -lhes as páginas

Não lidas

Não deixei de bater os sapatos, antes de entrar

E desfaço com vorazes olhos a esperança

Dedico meus dias em longas andanças

Matando de espasmos

A vida desse meu lugar

Que são pois, inocência, asnos

Decência

Que em minha arbitrária proeminência,

Ignoro

E por isso não sei versejar

Beatriz Beraldo
Enviado por Beatriz Beraldo em 31/07/2015
Código do texto: T5330429
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