SE VOLTASSE NO TEMPO

Se eu voltasse no tempo e me tornasse o jovem que todos sonhamos ser e quando somos não o percebemos em nós.

Eu mudaria algumas coisas!

Começaria por ser mais bondoso comigo mesmo e mais gentil com as pessoas.

Não me poria nunca atrás dos meus objetivos, muito menos as outras pessoas que me cercassem e gastaria mais tempo e mais atenção para aprender o que não soubesse sem achar que isto não me faria falta.

Não me faria uma vítima de mim mesmo, nem gastaria tempo reclamando dos problemas, cuja boa parte, provavelmente só existiriam na minha mente.

Eu ouviria mais e falaria menos. Perguntaria mais e responderia menos!

Exploraria com maior acuidade minhas dúvidas! Certo de que as inquietações movem as descobertas e que a dúvida, apesar de nos atormentar ainda é melhor que o desencanto da certeza.

Seria mais terno nas minhas relações com o mundo e pararia para observar mais e melhor as questões, para ver as nuances, os vieses, os contrapontos, os ângulos não considerados.

Não me jogaria de cabeça com fiz atrás dos sonhos sem que tivesse questionado a mim mesmo se eles eram mesmos o melhor para mim e se valeriam a pena consegui-los. Na maioria das vezes, fui induzido a eles, por motivos fúteis. Muitas vezes fui induzido por modismos, por querer satisfazer o “status quo” reinante ou não desapontar pessoas ou o estereótipo que imaginava que faziam de mim ou ainda pior, por insegurança.

Eu certamente seria mais cauteloso com os meus planos e mais respeitoso com os meus sentimentos, principalmente em relação às pessoas que me amavam.

Eu diria mais não aos outros e principalmente a mim mesmo e não fugiria dos confrontos, pois, hoje sei, que deles nasce a consciência.

Eu provavelmente, avaliaria com mais rigor e mais tempo as decisões e nunca decidiria nada, sem a ajuda inestimável do tempo. Daria sempre um tempo, antes de agir. Pois o tempo é um sábio que nos dá o vislumbre daquilo que a mente não alcança, por estar comprometida com os condicionantes do momento, das mágoas, dos medos, das idiossincrasias, da falácia dos argumentos, o receio de ser considerado indeciso, vacilante. O tempo, sempre se revela o melhor conselheiro e todas as decisões tomadas de afogadilho, sob pressão, são decisões incorretas. Tomar decisões no timing correto é um ato de sabedoria.

Acataria conselhos dos mais velhos e não teria receio em se abrir com os amigos, minhas dificuldades nem teria pruridos em escondê-las como se problemas, fossem coisas ruins que nos diminuíssem. Entendo hoje, que ao contrário, eles são as coisas que nos possibilitam crescer.

Se eu voltasse no tempo, eu daria mais valor aos prazeres da vida e não faria nada que não me trouxesse de volta algum prazer em fazê-lo, pois sei hoje, que o prazer em fazer as coisas é a maior mola motivadora do ser humano e não deixa espaços para arrependimentos.

Eu esqueceria a perfeição e nunca mais seria escravo dela. Estaria mais alinhado com minha consciência de que sou humano, falível, cheio de dúvidas e necessitado de afirmações que o mundo nos nega e assim um necessitado de amor, compreensão, afeto, carinho e amigos. Assim, nunca seria um ser isolado, como uma ilha, mas uma casa cheia de calor humano, postando-me como meus semelhantes, no mesmo nível deles, nunca tentando ser, superior a eles. Porque hoje sei, que é a imperfeição que nos une, enquanto a busca da perfeição nos afasta.

Riria mais de mim mesmo e menos dos outros e exporia meus defeitos, lidaria melhor com a inveja, não apenas ignorando-a, mas mostrando que meu eventual sucesso ou dotes naturais, quaisquer que sejam, não me fazem melhor que ninguém, nem usaria isso, para humilhar os que não os possuem.

Seria mais tolerante comigo, mais humilde e mais indulgente com os outros. Me doaria mais a mim mesmo, aos outros e às causas que considerasse justas, sem ceder ao ódio, mas com o lume da lógica, da palavra, do equilíbrio e da equidade.

Não mais me renderia as pressões de ser o melhor, o melhor amigo, o mais bonito, o mais correto, o mais admirado, o mais brilhante, o mais bem-sucedido, o mais puro, o que bebe mais, o que agrada mais, o que sabe mais. Estas pressões, nos levam a ser injusto conosco e pior nos levam a mentir e a acreditar na mentira, o que cria um mundo ainda pior. Isto contudo, não significa desistir de lutar e vencer, pois a vida pede luta.

Eu lutaria da mesma forma que lutei, contudo, não pelos mesmo motivos.

Se voltasse no tempo, despenderia mais tempo em ser e não em fazer. Despenderia mais tempo com os momentos ternos e daria mais importância àquilo que elevasse meus sentimentos e me melhorasse como ser humano.

Arrumaria mais tempo para amar e mais coragem para demonstrar os sentimentos e nunca perderia uma oportunidade para revela-los.

Nunca mais chamaria ninguém de idiota, pois com o que sei hoje, olhar-me-ia no espelho e teria dúvidas sobre mim.

Aceitaria melhor as derrotas como única forma de aprender com elas.

Aprenderia que perder não é fracassar e que nunca devemos nos sentir inferior nem superior ao que somos, nem igual ao que não podemos ser.

Pediria a Deus duas coisas somente: Livrar-me de minha arrogância e não fiar em minhas certezas.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 30/08/2015
Código do texto: T5364560
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