Angústia
Já não sinto angústia como angústia, mas como algo devora a si mesma,
Já não sinto angústia das luzes da cidade e dos sons dos carros,
Já não é barulho da multidão enlouquecida sabe-se lá de quê que incomoda,
Já não é a morte no sinal ou mais um prisioneiro que foge da prisão,
Já não é o medo da morte, nem a falta de dinheiro ou trabalho,
Já não é o noticiário da TV, nem a hipocrisia da igreja,
Já não é estar acompanhado se sentido sozinho,
Já não é estar sozinho com tanta gente ao redor.
Já não é a angústia sozinha que me faz temer, mas aquilo que espero.
Já não sinto a angústia do hoje, mas como algo que nunca vem, porventura está.
Já não é o medo da angústia, mas o horror de não querer senti-la.
Já não sei se ela é necessária, porém, grita-me um desejo de algo maior.
Já não sei o que é essa angústia, mas sinto que é falta - falta de quê?
Já não sei explicar, e talvez seja exatamente isso: querer explicar.
Já não sei o que quero, mas sei, não como, porém sinto.
Já não é angústia agora, mas uma luz que me invade,
Já não é por mim mesmo, mas algo de precioso que essa luz me traz.