Sábado dos Espíritos

Espíritos dançando soltos

Na noite cabelos revoltos

Critérios em desalinho

Ninguém pelo meu caminho

Observo andando sozinho

Demônios na rua arrojados

Dos olhos branco-esmaltados

Aos sorrisos de dentes trincados

Travados na pele nua

Bailando elogios à lua

Bebendo desvarios

Correndo riscos

Acelerando a vida

Namorando perigos

Separando e unindo amigos

Do brilho da estrela ao poste de luz

Caco de vidro que à vista da morte reluz

Cheirando o pó que tirei do meu chão

Sugando o sangue do meu próprio perdão

Transeunte noturno

Urrando cervejas

Brigas, erros e fraquezas

Uma Transilvânia de incertezas

Vampirizando emoções

Martirizando tensões

Espalhados em cada ruela

Deixando a noite mais bela

Anjos sem braços

De asa negra de noite

Colares no pescoço

Pele só sobre o osso

Façam-me o favor...

Que unam-se Barra e Rocinha

Casem-se bairro e favela

É o tiro, o plástico e a vela

A reza pela mocinha

Que morreu atropelada

Sem nunca saber de nada

Nem da chuva de metal

Nem do pó da madrugada

É a noite em seu normal

Espíritos voltando pra casa

Uns em cascos, uns em asa

Se carregados ou altivos,

Se superaram os perigos,

Vomitaram seus motivos

Pela noite que se encerra

Sua triste procissão

Uns vivos, outros não

Em silêncio agora todos

Na última hora, então

Arrastando para sombra

Derradeiros maldizeres

O sol nascido secando

O resto dos seus poderes

Até a próxima noite

Até o novo festim

Um brinde para você

E outra dose pra mim.