Abençoadas lacunas
Abençoadas as lacunas da mente
Que deixam nela espaço aberto
Tomam espaço do que se sente
Abrindo caminho no já habitado
Abençoadas lacunas que não se conhecem
E se ligam com laços de aço
Sendo o sou, o sinto, o faço
Sem ser nada exceto elas mesmas
Soldados ferrenhos de nós mesmos
Empregados mal remunerados
Trabalhadores do mais sujo trabalho
E ainda assim muito dedicados
Abençoadas as lacunas pelo que são
Por espaços que abrem e tiram
Pela utilidade mal interpretada
Pela fama não requisitada
Abençoadas lacunas de esquecimento
Pelo que apagam e tão logo ocupam
Pelo que causam e o que as causa
O que substituem e se tornam, confusas
Abençoado todo espaço em branco
E as cores que eles oferecem
Não importando, da forma mais sincera,
O que havia, o que tinha, o que era
Abençoadas lacunas pelo que tomam
Cumprindo apenas seu dever
Garantindo apenas por serem
O dom libertador de esquecer
Abençoado tudo que se esquece
Deixando o eterno espaço vazio
Preenchido apenas por elas
Lacunas, por si próprias, eternas