O ESCRAVO
Acordou tão cedo hoje, já sendo chicoteado
Mas o que são mais ferimentos em meio a tantas cicatrizes...?
Ele não sentiu nada já estava anestesiado
Só se via o sangue em suas costas,
Nem sabia o quanto tinha apanhado
Ele servia a senhores maiores...
Mais ricos, poderosos,
mais perversos e mentirosos,
Exploravam seu medo, seu corpo e sua alma
E ainda se sentiam honrosos
"Explorai-vos uns a os outros até que o inferno chegue e mate todos."
O pobre escravo não pensava nem em céu nem em inferno,
Não importa se seria morto pelo Diabo ou salvo por Deus,
Sabia que viver era incerto,
E que iria na direção à que foi dado,
Só para proteger os filhos que são seus.
Ele mesmo assim sonhava com a liberdade
Juntar sangue azul com sangue vermelho
A harmonia do branco e do negro
E pensava como quem tivesse muita ingenuidade
O escravo já viu o próximo morrer de sede e fome,
Já viu povo matando seus irmãos,
Pais matando filhos,
Em quanto os donos do seu mundo continuavam rindo.
O escravo não sabe qual é a solução pra tanta desgraça,
Pobre escravo... não sabe que pensar nisso não leva a nada.
Caído no chão o escravo tira um espelho do bolço,
Enrolado em um pano,
Então ele mirou em seu rosto pra lembrar que é humano,
E no espelho ele se viu...
Chorou por lembrar de tudo que estava acontecendo
E assim ele foi adormecendo... até que não acordou mais.