Rondó dos Orisá

I. De onde é possível Esù e sua encruzilhada

a energia

incide

naquilo que é possível

em cada lide

arma e desarma

o simples carma

de fazer impossíveis

pela alma

Esù é um exército

de todos os eus

e de todos os outros

em que se arma.

a encruzilhada

é só um jeito

de lançar a liberdade

dentro do peito

Esù estendido

à contraluz

é só o desejo de mim

que me conduz.

II. Ogun exército de todos

a energia

agride

todos os caminhos

que permitem

e dos passos

alavancados

na força de uma paz

amordaçada

Ogun constrói insone

todas as estradas

as que dão em mim

as que dão em nada

porque vivê-lo

é sempre

deixar-se na batalha.

III. Ososi flecha num futuro pleno

a energia

engravida

na fartura de Ososi

pela vida

a mata é apenas bandeira

de tremular a paz

na noite brasileira

e dançando

em todos os seus trilhos

o mundo se esconde

de seus esconderijos.

IV. Ossaiyn inventa a folha e borbulha

a energia

explica

o verde todo da terra

de sua notícia.

da manhã das folhas

assim declaradas

invente-se a sasanha

de todas as madrugadas

é que o tempo

é só esconderijo

das naturezas que inventas

pelo meu juízo.

V. Osumarè inventa o infinito

a energia

expande

a grandeza dos mundos

que tange

arco-íris

nem te poupas

em desfazer as manhãs

com que me ocupas

Osumarè

guarda em si

o movimento do infinito

de que me vesti.

VI. Omolu planta a terra no seu grito

a energia

atesta

a profundidade da terra

em sua gesta

tudo que lhe saiba

é só um texto

com as palavras que inventa

em meus cabelos

meus pés te pisam

nos sonhos que comento

e sentem teu abraço

através dos tempos.

VII. Oba luta seu destempo

a energia

avança

Oba luta em tudo

a sua esperança

perdida

no vão de sua dor

inventa-se guerreira

de todo desamor

VIII. Iewa ilude a tarde

a energia

espreita

nos ombros da tarde

os mistérios da deusa

lúdica

e sempre dançarina

Iewa transgride

sua própria sina:

a de parecer-se noite

com jeito de menina

IX. Sangò explode no tempo

a energia

incendeia

todas as vias

todas as veias

Sangò caminha

trovoando a vida

e se inventa no tempo

de suas desmedidas

e laça a razão dos homens

pelas avenidas

X. Yansa navega o vento

a energia

explode

todas as manhãs

de quem se move

o vento

despenteia a vida

e Yansa passeia

todas as medidas.

XI. Longunédè enlaça a vida

a energia

espelha

toda a natureza

com ares de certeza

Logunédè passeia

todas as manhãs

em suas teias

enquanto seus encantos

pelas ruas incendeia

XII. Osùn penteia o tempo

a energia

clareia

todos os rios da alma

em que se penteia

Osùn , em seu abèbè, espreita

todos os metros da vida

em que se enfeita

é que se dá a uma razão

que a todos incendeia.

XIII. Yemoja laça os mares

a energia

nada

todos os mares e filhos

que prolata

Yemoja nem suspeita

as áfricas todas que leva

em suas tetas

é que rio

sempre desagua

no mar absoluto

de sua calma.

XIV. Nana na paz da origem

a energia

é lama

tudo que da paz

Nana inflama

onda de danças

origem de tempos

o orixá é jeito

de conter o pensamento.

XV. Osàlá, construtor de horizontes

a energia

aplaca

todos os mares

da alma

Osàlá sorrindo

só constata

a exata rebelião

da calma.

jangada de tudo

inventa horizontes

como se tivesse hoje

todos os ontens.