Quando Morrem os Heróis
O que resta a nós
quando morrem os heróis?
Um passado de escórias
um passado sujo sem glórias
de uma humanidade que berra
que usa a razão em função da guerra.
O que resta a nós
quando morrem os mitos?
Apenas a verdade:
a insanidade do vazio.
O Animal Racional é desprezível,
pois sua razão é destrutiva e não-destrutível.
É invertida sua inteligência
pevertida, ela causa a demência
Clemência
aos homens de bem!
Meu amor não está aqui
assim como não está ninguém.
Pra onde vão os anjos depois que a gente cresce?
Será que a gente vence, e os enlouquece?
O que então nos resta
quando a verdade não presta?
Nações que compram terra com sangue
Ministros de uma grande gangue
Presidentes
que matam sua própria gente
Reis
que não respeitam leis
Generais
que são verdadeiros animais
Igrejas
que incentivam a caridade e acumulam riquezas.
O mundo cão bate à nossa porta
A Esperança, coitada, a encontraram morta.
Sabe no que se transformou a vida?
Num cemitério de gente viva.
Pois uma razão é divisível
entre o que vemos e o invisível.
Um rosto sorri
mesmo quando a alma chora.
Tinha razão Belchior:
"a vida, ao vivo, é muito pior.
Como fazer uma canção como se deve
muito linda, muito leve
se os caminhos são navalhas?"
Sorrisos também são mortalhas
e a mão que protege
é a mesma mão que mata,
a mão que acaricia
é a mesma que também desfere tapas.
Que fazer de nossas vidas
quando ela só produz feridas?
Meus ídolos da infância
fogem de minha falida lembrança.
Sou só eu no quarto escuro
o fugitivo escalando o muro
mesmo sabendo que os soldados o espreitam do telhado.
É bem melhor morrer de pé
do que viver ajoelhado.
Tirem esse cadáver do meu lado!
Aqui há só eu e os meus segredos
e eles sabem os meus medos.
Que fazer para vencê-los
se já não há mais fatos notórios
e a mente é escrava do óbvio?
Onde estão as fadinhas encantadas?
Só sobraram as bruxas malvadas.
Cadê os duendes da floresta
quando só realidade nos resta?
Os criminosos em liberdade
e os "de bem" presos em sua própria verdade.
Quero uma religião que fale comigo
e um Deus que não seja meu inimigo
mas que acompanhe em meus passos
que compreenda os meus atos
que me oriente em tudo que faço.
Não um Deus que vive no ermo
e que queima seus filhos no Inferno.
Quem é que está errado?
Eu ou o mundo ao meu lado?
Minha poesia é o que me resta
escrita torta sobre linha reta.
Tirando tudo, nada mais me afeta.
Quando choro eu não minto
nem é esse o meu desejo
pois dor, não é o que sinto
é, principalmente; o que vejo.