NATURALIDADE

Sob o manto pálido do outono

Acorda um sol suave já sem sono

O horizonte corado substitui o gris

Floresce a manhã preguiçosa e gentil

Da minha janela, olho para o mundo

Um olhar pasmado sem pensamento

Uma roseira acena-me levemente

No passar de uma brisa inconsciente

Tudo flui sem mim, tudo se organiza

O sol, a luz, o tempo, o dia, a brisa

Tudo transpira e conspira para a vida

A ideia de ser dispensável me incomoda

Como seríamos se não pensássemos?

Viver como um ente natural, sem dor

Sem os buracos intapáveis da alma

Doando e recebendo as graças do amor

Todavia ensinaram que somos Deuses

Uma besta que pensa, sofre ama e mata

Um ser inquieto que constrói mundos

Porque não entende as aflições do seu eu!

Desejaria não ter nunca mais pensamentos

Estar consciente sem se afetar p/ sensações

Apenas olhar ao redor, não dourar a beleza

Ser coisa, inalienável à realidade do mundo

Mas, nem sei porque este pensar me veio,

Logo agora que o dia se insinuava azul

Fecho a janela e volto à rotina abjeta

Dos vales sem vida, nos trópicos do Sul

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 20/04/2018
Reeditado em 23/01/2024
Código do texto: T6314022
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