Sociedade Bomba Atômica

Dói de uma dor que se esvai e o tórax contrai

Numa ânsia de vomitar a alma

Dói, corrói, escapa do controle.

De súbito se esvai no labirinto das idéias

Mistura-se a impressão irracional dos atos.

A vontade de amar ultrapassa toda coerência.

A ânsia de produzir e envolver o outro

Numa espécie de criação de si mesmo

E o esforço de dar braços à humanidade

Retirá-la do poço lamacento

Onde se encontra por abandono total...

E egoístico descaso .

Faz-me chorar ao pensar nas crianças

Lançadas nos esgotos da incoerência

De uma sociedade injusta e podre

Que as deixam ao abandono

A mercê de uma escandalosa violência

Que as transformam em caricaturas

Na luta pela própria sobrevivência.

Uma sexualidade fora de hora

Que as empurram aos desvarios dos sentidos

Sem ao menos estarem preparadas

Para o encontro de si mesmas.

Momento em que a descoberta do corpo mutante

É um susto, por si só.

E a sexualização do ambiente é amedrontadora

Que as lançam ao desconhecido, sem dó.

Ao mundo dos adultos, retirando-lhes a infância.

Quando é que iremos tomar a dianteira do mundo

Proteger a infância e adolescência

Desta loucura pelo prazer individual

Onde meninos e meninas viraram alvo do mercado

E a ética inexiste onde o lucro é certo.

Não podemos deixar toda uma humanidade

A mercê destes chacais midiáticos

E de braços cruzados vomitar agoniados a sós

Atônitos como Einstein diante da bomba atômica

Que hoje se tornou cada um de nós.