Perdoe-me Platão

Perdoe-me Platão...

Nascida do carbono, sinto-me em paz com o fogo e a sombra.

Rompi os grilhões das incertezas e tormentas, ainda era dia quando deixei a caverna...

Já fora, a luz cegava meus olhos e não suportei tantas e tantas cores novas.

A revoada dos pássaros, causou-me vertigens.

Não estou preparada para renascer de mim mesma, ninguém está.

Aborreceram-me os excessos dos que dizendo amar, desencantavam os outros e depois sorriam.

Ouvi mentiras que deveriam ser verdade e verdades que infelizmente não passavam de mentiras.

Vi que tudo vira coisa a ser adquirida e rapidamente descartada e que esse monte de coisas nunca será suficiente para aplacar a cobiça dos homens, muitos destes também já não passavam de coisas.

Senti uma falta absurda do cheiro de cedro queimando na fogueira e do tilintar das faíscas.

Nem era tanto o medo daquilo que vi lá fora, mas o pavor que senti aqui dentro do peito.

Voltei para a segurança do meu mundo interno: minha caverna acolhedora, escura e quente.

Onde só existe aquilo que eu quero sentir; onde só me fazem companhia as sombras que dançam na luz.

Renata Vasconcelos

Renata Vasconcelos
Enviado por Renata Vasconcelos em 23/04/2018
Reeditado em 24/04/2018
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