Morfema
Os poemas que ficam à mercê do deleite
Redemoinham com semblantes amenos
Onde a demagogia se liberta dos desenlaces aceites
Como viga à plenitude do que se aceita em acenos
São os poemas que vagueiam no vagar da utopia
Levando-nos perante oscilações ignotas
Raras mas tão vulgares como quem copia
As índoles transcritas no talento de um bloco de notas
Poderosos escritos de palavras entrelaçadas
Que conseguem da sua interpretação um longo alcance
Como quem vagueia por entre o confronto e as vagas
À tocante quando se sente a beleza em relance
Vigias prolongadas à vocação em ser
Num rasgo, um impulso, um poema
Quando o poeta lança as palavras querendo crer
Que quem as lê as sente como suas a cada morfema
Rombos de agrado perante o relento
Que é ter a poesia suspensa na verdade quimera
Devaneios que se podem levar em sentimento
Quando a raiva se cega à poesia e a vida a venera
Como a predilecção e os castros rudes ao vislumbre
A poesia quando cantada pode ser morte e dor
Quando possuída à loucura do deslumbre
É a poesia que faz do momento o nosso ardor