É a vida que nos abate
Vi feitiços cometidos à loucura perdida
Quando me arrastei num rasto de ciúme
Conseguindo da vida o que me deu a vida pretendida
Quando sem nada pedir, pedi o golpe e o gume
Levantei-me ao soar das grilhetas
Como condenado à vida eterna
Vivi assim, preso à vontade das ampulhetas
Do que restava dos restos desta vida alterna
Pedi sequelas às consequências que ataviei
Levando-me a acreditar nos ímpetos e no mote
Fiz de mim alguém com a ganância ao que sonhei
Pensar na vida como se a vida fosse sorte
Lembrar-me-ei de me ajuizar quanto vir o fim
No sereno de um amanhã que nunca chegará
Será um momento de inveja à vida que enfim
Morrerá com o sabor de quem partiu não tornará
Mas a vida não é devaneio nem suplício
Porquanto por ser escassa é rude e mãe
Vive-nos e dá-nos a força e o artifício
Para com a astúcia e vontade não sermos dela refém
Como a hora que parte o tempo que partiu
A vida passa cantarolando desapegada em arrebate
Porque foi ela que a vida possuiu
Por ser a que nos dá a vida e por ser a que nos abate