Raposa

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A água arroga-se ao fado

de lavar a terra

enquanto o fogo devora o ar

e perece de asfixia

logo em seguida.

Os elementos conjugam

a existência,

ainda que uma criatura crie

até se recriar,

e mesmo absurdamente,

esse ente se replique

até num reflexo de si

e pelo meio

irrompa a chaga

e a lágrima.

Ainda que o peito respire

e a voz quase desvalida

se evada de um rompante

e por fim algo cante

por alguém ou algures,

"au claire de la lune!"

e de se traduzir

no suspiro a um certo luar

no pintar em "chagrin"

de uma paleta de nostalgia.

Necessariamente, evita-se

a ideia de se morrer

numa bola de fogo desvairado

ao temperar-se

com um fio anil de ocaso

a memória da ultima debandada.

In extremis, evita-se

atingir a raposa siderada

pela mira halogénica

e rasante ao asfalto.

Pois, claro!

Não se atropela

semelhante criatura;

Procede-se, então, à contagem final:

5 ... derrapa-se

4 ... embate-se

3 ... capota-se

2 ... incendeia-se

1 ... perece-se

Zero

...

no último contemplar

de uma inocência viva.

E se for este o caso

se for o meu ocaso

chamem-me só de falecido,

não me chamem vítima.

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______________________LuMe

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Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 17/05/2018
Código do texto: T6339194
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