Raposa
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A água arroga-se ao fado
de lavar a terra
enquanto o fogo devora o ar
e perece de asfixia
logo em seguida.
Os elementos conjugam
a existência,
ainda que uma criatura crie
até se recriar,
e mesmo absurdamente,
esse ente se replique
até num reflexo de si
e pelo meio
irrompa a chaga
e a lágrima.
Ainda que o peito respire
e a voz quase desvalida
se evada de um rompante
e por fim algo cante
por alguém ou algures,
"au claire de la lune!"
e de se traduzir
no suspiro a um certo luar
no pintar em "chagrin"
de uma paleta de nostalgia.
Necessariamente, evita-se
a ideia de se morrer
numa bola de fogo desvairado
ao temperar-se
com um fio anil de ocaso
a memória da ultima debandada.
In extremis, evita-se
atingir a raposa siderada
pela mira halogénica
e rasante ao asfalto.
Pois, claro!
Não se atropela
semelhante criatura;
Procede-se, então, à contagem final:
5 ... derrapa-se
4 ... embate-se
3 ... capota-se
2 ... incendeia-se
1 ... perece-se
Zero
...
no último contemplar
de uma inocência viva.
E se for este o caso
se for o meu ocaso
chamem-me só de falecido,
não me chamem vítima.
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______________________LuMe
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