Sobrevivência

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Vou tentando decifrar

o ser que se mascara de mim

enquanto transeunte da vida,

no mesmo estilo de, uma vez

e de veras aflito,

ter aprendido, sozinho,

a nadar numa margem

do rio Liz.

Por essa mesma lógica,

já deu para entender que,

ao longo da existência,

vou sobrevivendo,

a um tempo

deixando-me afundar

para, no tempo seguinte,

e ao bater no fundo,

me projectar, ascendente,

pela vontade de emergir

mais perto da salvação

de uma margem próxima.

Normalmente

esse ciclo de sobrevivência

como tantos rituais

tem de ser repetido,

sucessivamente,

pondo-se de parte o luxo

de deslembrar o obvio

de encher os pulmões de ar

cada vez que, ao menos,

se alcança a superfície.

...

É bem no fim deste processo

que se reformulam

os meus silêncios

num interlúdio ao caos

num contraponto urgente

ao vociferar das multidões.

Isso mesmo!,

o silêncio em contraponto

pois que na minha vez,

em vez de falar, eu calo

por não conseguir escutar

o meu ponto.

(Vide palco, cena, teatro)

Como remanescencia

a imensa estranhidade

ao sentir

que já não me falta tudo.

Ou faltará?

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_____________________LuMe

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Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 30/05/2018
Código do texto: T6350922
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