Espaço

.

.

Quando cheguei do sonho

a solidão continuava acesa

no espaço de vida

que me é invariavelmente destinado.

A caixa fria da dúvida

estava ainda aberta,

por ventura vazia,

mas sempre tão real.

Só a minha sombra a saudou,

num ténue deslizar

que fez erguer no ar

parte da poeira do esquecimento

e avivar em mim velhas emoções

remotamente atrofiadas

na ambiguidade daquele silêncio.

.

Tudo o resto

permanecia e achava-se;

Tudo o resto

devolvia-me à indiferença

ou introduzia-a em mim suavemente;

Tudo o resto

a perpetuar a evocação

de imagens amarguradas

no desencontro de tempos

no desencanto de realidades.

.

À luz da solidão que continua acesa,

observo o brilho lânguido

de uma qualquer

lágrima de estimação!

Ela encerra a angústia

do pedaço mais obscuro

da minha ignorância.

Como que num lamento,

ressoa em mim esta dúvida:

Para lá do sonho

o que fica por descobrir?

Seguirá a vida para além da vida?

Viverá a morte lacaia de uma quimera? Reinará o sonho dos sonhos?

E-o-sempre-pegado-ao-nunca?

.

Sensatamente,

retorno ao meu espaço de vida,

depois do devaneio;

e já nem sei se é regresso

se é exílio.

E não é que, por vezes,

nem sei se vivo !?!?

.

______________________LuMe

9/6/85

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 04/06/2018
Código do texto: T6355482
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.