Espaço
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Quando cheguei do sonho
a solidão continuava acesa
no espaço de vida
que me é invariavelmente destinado.
A caixa fria da dúvida
estava ainda aberta,
por ventura vazia,
mas sempre tão real.
Só a minha sombra a saudou,
num ténue deslizar
que fez erguer no ar
parte da poeira do esquecimento
e avivar em mim velhas emoções
remotamente atrofiadas
na ambiguidade daquele silêncio.
.
Tudo o resto
permanecia e achava-se;
Tudo o resto
devolvia-me à indiferença
ou introduzia-a em mim suavemente;
Tudo o resto
a perpetuar a evocação
de imagens amarguradas
no desencontro de tempos
no desencanto de realidades.
.
À luz da solidão que continua acesa,
observo o brilho lânguido
de uma qualquer
lágrima de estimação!
Ela encerra a angústia
do pedaço mais obscuro
da minha ignorância.
Como que num lamento,
ressoa em mim esta dúvida:
Para lá do sonho
o que fica por descobrir?
Seguirá a vida para além da vida?
Viverá a morte lacaia de uma quimera? Reinará o sonho dos sonhos?
E-o-sempre-pegado-ao-nunca?
.
Sensatamente,
retorno ao meu espaço de vida,
depois do devaneio;
e já nem sei se é regresso
se é exílio.
E não é que, por vezes,
nem sei se vivo !?!?
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______________________LuMe
9/6/85