Calmante

Olho para minúscula drágea em minha mão

Tão pequena.

Tão poderosa.

Minha calma virá dela.

Da apropriação química sobre meu corpo.

O corpo dói.

Doído sobretudo musculoesquelético.

Feixes nervosos confusos

Não me deixam dormir.

Ou durmo tão leve

que a pluma levita-me

e faz-me acordar.

Um carro lá fora buzina.

E, aqui, está a pílula.

Bebo com água em temperatura natural.

A natureza entregue à química.

A química entregue aos elementos.

Em surdina.

Um sono arquitetado pela trama

auspiciosa da medicação médica.

Farmacopeia agradece.

Daqui há pouco é o dia seguinte.

Daqui há pouco é o futuro inteiro.

A esperança viva que não é verde.

É melanina.

É creatina.

É proteína.

Queremos ser fortes.

Queremos ser invencíveis.

Queremos o podium.

A medalha e as honras.

Mas, agora, na concorrência das horas.

Preciso apenas do sono.

Límpido como tabula rasa.

Sem escrita

Sem controle

Sem nada.

Depois quando acordar

restará a culpa

de ceder a tentação

de tão minúscula coisa.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/07/2018
Reeditado em 15/08/2019
Código do texto: T6394812
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