Sobre a necessidade de sermos consumidos pelo fogo e transformarmos as cinzas em poesia.

Existe um problema em usar palavras escritas como escape para sentimentos; a gente vicia no extremo. Vicia em sentir com muita intensidade. E se não acontece assim, batemos, modelamos, esticamos e olhamos de vários ângulos, pra que dali seja extraído dores violentas ou felicidades inebriantes.

O morno não serve. Pra nada.

E isso acaba nos traindo. Nos fazendo enxergar tudo breu ou brilho, onde só existe o fosco. Essa sede de sentir nos engana. Nos transforma em mercenários das palavras; procurando em reflexões e amores, a próxima poesia.

A tranquilidade sufoca. Como a calmaria vasta do oceano, para um naufrago que desejar chegar á terra firme.

Somos como cães de rua que buscam, num osso qualquer atirado no lixo, um pedacinho de carne, para nos sentirmos vivo. E talvez seja mesmo essa a questão; o medo de morrer por dentro, de não sentir mais nada diante de tanta apatia generalizada, nos incita a andarmos por aí de peito aberto, com o coração pulsando do lado de fora, esperando sermos atingidos com violência, seja por uma força que vai dilacerar cada músculo ou que faça os batimentos enlouquecerem.

Somos aqueles que se cortam, esfolam e sangram na escalada de uma montanha, só pra chegar ao cume e ignorar a visão do horizonte, já que o caminho até ali marcou a carne com tanta veemência e tornou qualquer possível apreciação da paisagem em algo obsoleto.

Somos aqueles que a cada palavra sangram e a cada poesia renascem.

Diego Peppers
Enviado por Diego Peppers em 14/09/2018
Código do texto: T6448167
Classificação de conteúdo: seguro