As serpentes
A serpente mora ao meu lado.
Quando à luz da lua, entregue ao enfado,
Ouço a voz histriônica das bacantes
E o sopro aveludado dos ventos uivantes
Entrego-me, rangendo os dentes,
Ao veneno lancinante das serpentes
Sem saber que entre ruas espúrias de camélias
E liras perdidas de Ofélias
Rastejo entre arbustos e videiras
Espreito a brevidade de um dia
E descanso inutilmente a forma esguia.
Entregue a peçonhas traiçoeiras
Minha sombra se desfaz no breu
A serpente que me devora sou eu.