As serpentes

A serpente mora ao meu lado.

Quando à luz da lua, entregue ao enfado,

Ouço a voz histriônica das bacantes

E o sopro aveludado dos ventos uivantes

Entrego-me, rangendo os dentes,

Ao veneno lancinante das serpentes

Sem saber que entre ruas espúrias de camélias

E liras perdidas de Ofélias

Rastejo entre arbustos e videiras

Espreito a brevidade de um dia

E descanso inutilmente a forma esguia.

Entregue a peçonhas traiçoeiras

Minha sombra se desfaz no breu

A serpente que me devora sou eu.

Murillo H. Castex
Enviado por Brunno Freire em 02/12/2018
Reeditado em 24/03/2020
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