As cicatrizes do sertão

Quando eu olho pra você

Eu vejo o sertão

Onde a chuva não alcança a terra

Onde o solo é rachado como os pés

E a lâmina da inchada?

Que nem faz ideia de como a terra fértil?

Da dor de cabeça caminhar no sol

Da dor de cabeça ver só fruta peca

Vaca magra

O vento nem chega

As praças são desertas

Quando eu olho pra você

Eu vejo cactus

Eu vejo melhor as cores

Eu quero me queimar neste sol

Do seu sertão

Ouvir minha poesia sair da tua boca

E sentir cada pedaço do meu corpo

Na palma das suas mãos

E ser tão

Bonita assim

Sem essas luzes todas

Sem este alvoroço das buzinas

Sem essas dificuldades

Para manter-se importante

Sem essa importância toda

No que não te quer

Quando eu olho pra você

Te sinto ser tão

Te sinto

Sertão humanizador

Meu céu sulista relampeja

E mostra as mesmas cicatrizes

Do seco interior

Adriane Neves
Enviado por Adriane Neves em 08/03/2019
Reeditado em 26/06/2019
Código do texto: T6593279
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