SER (não ser) POETA

Poeta nunca serei

Pois poeta ama falso.

Eu vivo e amarei

À maneira do homem descalço

Que em linhas de maré

Procura todas as vagas

Que trazem a seu pé

Memórias de lágrimas amargas.

Viverei de mente sóbria

E alegre de vida.

Pensarei de maneira própria

A uma pessoa esquecida

De si, do mundo, do outro

Para quem nada fica

De um amor ignoto

Senão um brilho de mica.

Poeta serei para falar

Mas não quero nunca ser

Poeta para pensar

Pois nada vale crer

Em paixões reprimidas

Que continuam a existir,

Não sendo então preciso

Procurá-las em pensamentos

De uma vida tão indecisa.