Ode aos instrumentos
Sina insana, assassina
insônia serena, dever
fina morfina de meu morrer
profissão divina, escrever
folha, folha, cafetina de meu prazer
ilumina a mente mínima, faz-me ver
a beleza anônima, o caso clínico, o louco, o ser
faça-te espelho, janela, receita, lei
lápis, lápis, lapidador de minha dor
tinta negra de minha lágrima, sim amor, não amor
marcou-me a flecha, marquei-a o lápis, não ficou lá, fica aqui
química mímica, física mística, gramática hermeticamente fechada, timidez
borracha, borracha, desvia o facho, atrasa o desfecho
acho ou não acho? nenhum dos dois, sei.
sei, sou, o resto não existe, se apaga no escuro
não é murcho, não é bucho, tudo é belo, tudo é puro
tanto tento, tenta-me o texto, falho no intento
creio me tonto, tosco, apenas ato, sem instinto
pra ver no momento, no instante a luz, o farolete na bruma
no escuro branco duma folha, na claridade negra duma tinta
tenho intenção mas não viso menção, não escrevo a esmo
faço de profissão, dou o plasma, destruo resmas
construo mundos, exponho lhes meu coração, terras ermas
ermas a tanto que ao ler pasmo, será eu mesmo?