Visão do paraíso
Peregrino nas marés dos devaneios do que não eternizei,
Beijo os céus azuis da criação não criada das memórias dos que não caminharam,
Estou a vogar no respirar das vidas e no desprezar das clemências que por velar morrerei,
Nesses mórbidos pensares do cansar terreno brotaram.
Voo sobre as nuvens e por vezes mais o negrume dos corações feridos,
O cantar dos pássaros já não é um belo soar que antes não era sofrido,
Dos confins a terra canta para os anjos que transcendem a dialética dos mundos,
Desta estrela cintilante que é a luminescência dos infernos mais moribundos.
Em meu vislumbrar a serena paz em meu coração fervente se açoita,
O verde dos campos em meu tocar é o mais belo dos últimos temores,
O afagar do vento é o mais belo e angelical cantar dos amores,
Destas lágrimas caídas em meus sofrimentos, os céus é o que me leva embora de qualquer tormento.
Os arcanjos abraçam os errantes e trazem-lhes a certeza do amor que ferve todo o existir,
Nem que estejas na profunda ilusão solitária que se realiza,
Não temas tua consciência pois mesmo no inferno terás para onde ir,
O perdão está na dádiva de quem tem a graça do amor sentir.
Nos sonhos não sonhados, nas memórias do que não se sentiu,
Clamei aos deuses o abraçar dos ventos que meu coração pediu,
Preces derramadas com lágrimas de sangue ao meu sofrer,
Deus então concedeu-me a visão irreversível para aqueles que não querem ver.
Acordei-me no calor de teus braços, no amar de teu coração,
Foi então que percebi que o paraíso sempre esteve em minhas mãos,
A graça de amar-te e tu amar-me era de verdade uma só união,
Tu és um pedaço do céu que vive aqui nesse chão.