Visão do paraíso

Peregrino nas marés dos devaneios do que não eternizei,

Beijo os céus azuis da criação não criada das memórias dos que não caminharam,

Estou a vogar no respirar das vidas e no desprezar das clemências que por velar morrerei,

Nesses mórbidos pensares do cansar terreno brotaram.

Voo sobre as nuvens e por vezes mais o negrume dos corações feridos,

O cantar dos pássaros já não é um belo soar que antes não era sofrido,

Dos confins a terra canta para os anjos que transcendem a dialética dos mundos,

Desta estrela cintilante que é a luminescência dos infernos mais moribundos.

Em meu vislumbrar a serena paz em meu coração fervente se açoita,

O verde dos campos em meu tocar é o mais belo dos últimos temores,

O afagar do vento é o mais belo e angelical cantar dos amores,

Destas lágrimas caídas em meus sofrimentos, os céus é o que me leva embora de qualquer tormento.

Os arcanjos abraçam os errantes e trazem-lhes a certeza do amor que ferve todo o existir,

Nem que estejas na profunda ilusão solitária que se realiza,

Não temas tua consciência pois mesmo no inferno terás para onde ir,

O perdão está na dádiva de quem tem a graça do amor sentir.

Nos sonhos não sonhados, nas memórias do que não se sentiu,

Clamei aos deuses o abraçar dos ventos que meu coração pediu,

Preces derramadas com lágrimas de sangue ao meu sofrer,

Deus então concedeu-me a visão irreversível para aqueles que não querem ver.

Acordei-me no calor de teus braços, no amar de teu coração,

Foi então que percebi que o paraíso sempre esteve em minhas mãos,

A graça de amar-te e tu amar-me era de verdade uma só união,

Tu és um pedaço do céu que vive aqui nesse chão.

Maria Fernanda de Araújo Dantas
Enviado por Maria Fernanda de Araújo Dantas em 11/07/2019
Código do texto: T6693166
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