trinta milhões

Bem vês, agora chove

Trinta milhões de impactos esparsos

O mundo é a paleta das tempestades

E do fumo dos cigarros, nas pessoas e prédios.

O vento faz dos meus cabelos

A copa das árvores invernais

Despidas do verde e bailando

A dança esquálida da morte.

Enxergo sentido nesta morte

Dos cabelos, árvores e promessas

Em toda temporalidade fugaz

Que transforma o azul perpétuo

Nas destrutivas borrascas cinzentas.

Enxergo sentido nesta vida

Do encolher trêmulo das aves

A desconfiança do felino doméstico

Que assim como nuances de Heráclito

Concebem a efemeridade dos estados

E que o azul de algum modo lá estará

Embora não esteja.

O externo como um todo é apreensível

E mesmo que eu não o compreenda sempre

Ainda resta-me um certo alívio

Por saber que ele desdobra-se para mim

Em milhares de labirintos e incógnitas

Que existem, que simplesmente existem.

O interno que carece de sentido

Esse interno de solidão e pluralidade

Flutuando num abismo de inexistência

Incapaz de tomar a forma das moléculas

Mas que arde-me nas vísceras

Como se brasa real fosse

Brilhando com a intensidade de mil sóis

E desnorteando meus sentidos

Sem um fio de Ariadne.

E terminamos todos assim

Acoçados pela permanência frívola do externo

Que ri-se da própria simplicidade

Da existência que existe

Enquanto as formas humanoides das mãos minhas

Contêm as lágrimas materialistas

De algo que não existe para fora de mim

E nem dentro de mim.

Zéfiro Alves
Enviado por Zéfiro Alves em 03/11/2019
Código do texto: T6786288
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.