Na falta de lágrimas deixo a chuva chorar por mim
O pingo vem do céu e toca a terra
o pingo vem dos olhos e toca o rosto
a boca abre e a alma berra
o céu se ilumina e grita com gosto
A gota cai e escorre pelo chão
a gota cai e escorrem dores
o rastro na face revela a aflição
o rastro na terra rega as flores
O rugido do céu anuncia a tempestade
o rugido da alma um furacão
o choro do céu castiga a cidade
o choro da alma liberta o coração
O pingo que vem do céu descansa nos mares
o pingo que vem dos olhos se esconde num travesseiro
as lágrimas das nuvens dançam pelos ares
as lágrimas dos olhos morrem num banheiro
E quando o pingo dos meus olhos já não escorre
deixo a chuva chorar por mim
e quando minha voz falha, seu som morre
deixo os trovões bradarem por mim
E me banho no seu desaguar sobre o mundo
sentindo cada gota como se fosse minhas lágrimas
assim vou me lavando de cada sentimento imundo
por fim,
o céu abre,
o arco-íris surge
e colore minhas cinzas lástimas