BALADA DAS HORAS ANTIGAS...

I

Na névoa fosca e fria

das noites intermináveis,

sem lua e sem estrelas

num céu invisível... sem horizonte,

adivinho ruas úmidas e vazias...

e ouço passos apressados

no ritmo de todos os relógios

confidentes de horas antigas...

II

No silêncio da noite estupefata

as vozes estridentes de pequenos jornaleiros

cadenciadas na surdez de pés descalços

apregoam com ironia

o nome dos jornais do dia...

É a hora das lâmpadas acesas

e dos pobres cansados do trabalho

depois das horas sem horário...

III

É o momento de todos os sossegos

no soluço de todos os tormentos...

pelos trilhos de aço companheiros

velho bonde se arrasta barulhento...

E os sinos das torres batizadas

anunciam merencórias madrugadas...

e há rumor de lentos carroções

rodando ao longe nas réstias d’alvorada...

IV

Ao tossir dos pobres operários

convocados pelo estrépito das fábricas,

sai o carro das manhãs enfarruscadas

conduzindo à “Pasárgada” querida...

V

Mas, não há mais lá, nem Rei,

nem amigos de oprimidos...

Attilio dos Santos Oliveira
Enviado por Attilio dos Santos Oliveira em 09/04/2020
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