DESAFIOS DO POETA

Gestar nas manhãs o milagre que se perdeu

Reascender a criança nos homens tolos

Espalhar, no verso da vida, a chama da justiça

Compreender a idade de um silêncio

Respirar pelos olhos durante um pôr do sol

Fazer da marcha do tempo um balé de cores

Conceber que há mistérios indecifráveis na travessia

Converter o discurso de ódio em diálogo amoroso

Perceber que se alguém sofre, ninguém é livre

Ter um compromisso vivo com a humanização

Saber que há pessoas que alimentam sonhos

e outras muitas que mutilam asas

as duas precisam de ombros

Considerar que palavras tecem cartas de amor

como também sentenças de morte

Desenredar o sabor de um olhar terno

Recobrar a lucidez diante da hipocrisia

e não fazer do medo uma religião.