Meus porquês

Por que ir às raízes, se as folhas é que estão à mão?

Por que ir aos clássicos, se os práticos é que divertem?

Porque ouvir boa música, se melodramas me afagam?

Por que o livro, se a imagem é o meu real?

Por que autonomia, liberdade e autoridade, se ser

alienado, autômato e indiferente me dão bem-estar?

Por que falar de ensino sério, se ninguém ensina

nada a ninguém?

Por que propor o estudo disciplinado, se o cifrão

é que vale e abre caminho?

Por que a angústia de ser, se já está decidido que

o que vale é o ter?

Por que evidenciar os fundamentos, se a onda

de superfície decide o viver?

Não concordo com essas indagações.

Prefiro outros porquês...

Por quê?

Porque enquanto outros porquês forem excluídos

de minhas preocupações, enquanto tão-só o "como"

continuar a me nausear e a "cultura efêmera" sobrepujar

a ordem do dia, a densidade da existência terá sido posta

de lado; e eu, medíocre e brutalizado, não terei sabido

o que, de fato, é a vida e o seu enlevo radical.