Rimas

É poeira que sobe e desce,
chuva que molha o chão,
vida que brota e cresce,
sai da palma da minha mão.
É poema que aflora e soa
da boca ao perfume do ar.
São brisas serenas que molham a palavra,
gotas de poesias soltas à garoa.
São meus versos na poeira,
rasteiros pelo chão molhado,
no rosto que cedo envelhece,
nas rugas das minhas mãos.
É a página que tudo revela,
o eflúvio que não mancha o espaço,
o vocábulo molhado no firme traço
da pequena poesia jogada na tela.
E na tinta do pintor, a imagem, o reflexo,
o berço da boca, da palavra; o beijo.
No retrato vivo do concerto,
a sinfonia sem nome; arte.
Divide, parte, reparte
na cumplicidade de um só desejo.
Como é sublime o dom que sai das mãos,
do amargo que mora dentro do peito.
É poesia que sobe na poeira
que a chuva joga no chão.
É palavra que banha na lágrima.
São sonhos de uma ilusão primeira.
São poemas de vida, de hora incerta.
É retrato de tinta na tela
e a saudade aflorando pelas mãos.
É a vontade de mover o mundo,
no jeito meio sem jeito, de tentar ser poeta.