A voz

A voz não é escutada,

as frases ficam vagando na mente.

Não consegue mais agir como antigamente.

Tudo parece maior.

Sufoca-a.

As conversas não existem mais.

Desaprendeu a arte do diálogo.

As palavras não expressam mais o que sente.

Ninguém percebe o que ela sente.

Sentimento solitário, alucinante.

O único diálogo que consegue é consigo mesma

Por isso não consegue respostas.

Não consegue desabafar.

O mundo continua, no seu ritmo cotidiano.

Parar para ouví-la, quem vai?

A multidão a sua volta não percebe que ela

aos poucos está adoecendo, enlouquecendo.

Vão deixando-a de lado.

A figura constantemente emburrada.

O sorriso, a paciência, a leveza, a sensatez a estão abandonando.

Ela busca ser percebida.

Mas a lágrima que cai não é vista.

Os olhos pedindo socorro não são vistos.

O sussurro que ainda resta não é ouvido.

A vida parece tê-la abandonado.

Ela busca razão para viver.

Ela procura se convencer de que não é necessário o outro,

não é necessário ser reconhecida, ser querida.

Tudo não parece ser necessário,

nem mesmo a vida.