Mutação...
Deixe a terra te engolir,
Permita que todo seu corpo seja soterrado pela imensidão,
Se entregue ao efeito nostálgico,
Não lute contra a Natureza,
Mergulhe,
Deixe-se envolver,
Cobrir por completo,
Mature-se nessa escuridão,
Molde-se como o barro fresco,
Recomponha-se,
Alimente-se da seiva,
Integre-se,
Escarne a podridão,
Mutile a carne fétida,
Preencha-se de nova vida,
Sature as lacunas,
Sare as feridas,
Perceba-se parte da terra,
Flua devagar,
Cave cada centímetro,
Deixe a terra te cuspir,
Não lute,
O tempo cumpriu seu papel,
A terra devolveu um novo ser,
Despido de toda a purulência,
Demovido de toda a virulência,
Desprovido de todo o preconceito,
Germinado na dor e no amor,
Cerzido de vestes e sentimentos,
Costurado de verdade e mansidão,
Aglutinado de sangue e consciência,
Cuspido e escarrado para coexistir
No outro,
Abra os olhos e a mente,
Encare de frente seu novo eu,
Siga o caminho,
Não há como retroceder,
O tempo voltou a passar,
E o mundo a girar,
Deixe para traz o passado,
Vigie o presente,
Empreenda o futuro.
E continue,
Apenas continue,
Pois a terra te cuspiu,
Caminhe com ela.
Continue.
Tudo é um processo,
Nascer e morrer,
Tantas vezes forem necessárias.
Na metáfora de ser engolido
E cuspido,
Continue.