Fonte/Imagem: Vinson Tan (vinsky2002 | Pixabay)
 

Domingo Molhado

Domingo molhado pela chuva incessante
Antecedida pelo vento forte e frio
Na mente o desejo recalcitrante
Do talento latente, nada pueril.
 
O eterno viajante das ideias
Desbravando as teclas do computador
Em uma verdadeira odisseia
No intuito de ir além, de simplesmente transpor...
 
Transpor aquela ponte, aquela meta
De alçar o voo, tantas vezes impedido
Na alma do itinerante, do poeta
Em um dia chuvoso e amanhecido
 
Ruídos ao seu redor, não o detém
O som da televisão na sala ao lado
Buzinas de carros mais além
Nada disso impedia o momento considerado.
 
Seu mundo era ali, naquele recinto
A garrafa térmica com água pela metade
Um livro ainda por ler, de autor distinto
A mesa de trabalho trazendo a desejada oportunidade...
 
Oportunidade de sair do casulo
De mostrar aos quatro cantos
Algo em seu interior, nada chulo
No intuito de ser parte do encanto.
 
O encanto do conhecimento e da imaginação
Da memória e do pensamento
Do conceito e da percepção
Da consciência e do sentimento.
 
O horário de verão se foi mais uma vez
No relógio de mesa, já passa do meio-dia
É chegado o meado do mês
Tudo, em sua constante cronologia.
 
O almoço, ainda por servir
O apetite, até então, não se manifestou
No momento, outra fome a nutrir
A apetência das palavras que se instalou.
 
Em seu íntimo, sentindo a paz que a chuva trazia
Junto ao frescor e peculiaridades do dia em questão
Que ora plantava, que ora colhia
As ideias, transformadas em versos e criação.
 
E assim, a jornada segue seu curso,
Na alma do viajor, ora guiado, ora guia
Na perene busca do vocábulo e seu decurso
Na tentativa de transformar a vida em poesia.