Cadê os valores

Lembranças de outrora a incomodar,

ver o que transforma um ser,

da inocente criança brincalhona

em mero adulto que apanha.

Recebe-se da vida um combo de pancadas,

amando ou odiando,

todo dia é tapa, mas nem todo dia é beijo.

Sorrir é fácil, espontaneidade raridade,

Ser esperto é ser ligeiro,

o que se parecia conhecer

agora é algo sorrateiro.

Misturavam-se sonho, medo e alegria,

desconhecer o futuro era cortesia da infância,

e agora quem dita o ritmo

é a ciência da euforia,

enrustida na correria cotidiana.

Loucura essa vida adulta,

tecnologia reduz esforço,

também intelecto e cortesia.

Sabe aquele olho no olho,

está agora no leitor de retina,

tornou-se mais fácil interpretar

algoritmos e códigos

do que o sentimento alheio.

Não são as lembranças que incomodam,

são as contraposições que ela cria

a reflexão do caminho,

a crítica da vida social vazia,

o medo da pobreza material

que a mudança radical da sociedade

causou na vida da criança

que dizia que a vida era

Bonita e é bonita, mas

hoje viver é ter vergonha de ser feliz.