Naufrágio
Sob a ilha, fito a dura consciência das rochas;
Tua massa rígida abate a flacidez colérica
dos pensamentos; amassando-os contra um vento,
tão aéreo em levezas.
Encontro-me no pedaço esmo de mim; no mais
solo e esguio marasmo da terra; esforçando-me para
humanizar a areia donde ninguém mais pisa.
Talvez já sejas humana em sua essência desamparada,
pois eis que é coagida pelas marcas que deixo ao caminhar.
Eu, que cavo-a com o meu pesar, ladrilhando uma trilha,
para que a angústia desfigure-se em face das memórias
marcadas no chão.
No mar fito as bodas do nada, elas pairam num horizonte
instransponível; todas fundidas ao vazio do arrependimento.
Todas mergulhadas nas lágrimas oriundas de rochas lambidas pelas águas;
Lembro-me do naufrágio:
A embarcação foi dissoluta e navegou sob palavras líquidas,
Assim, afundou na mais sórdida inconsistência; sobrou-lhe
o casco duro da efemeridade e o eco que predomina sob a rigidez das pedras.
E sobrou-me uma ilha cujo sol irradia com a indiferença mais pura de quem se doa.