NADIFICAÇÕES

O homem é o médium da mentira e da verdade.

A Morte nos acaricia expressando um olhar terno.

Luz negra, finitude infinita,

O reflexo do Fim brilhando em teu olhar.

A religião é a cicuta socrática transvestida de Luz.

O capitão deve afundar com seu navio,

Mulheres e crianças primeiramemte;

Um cemitério cômico de apartamentos, rodovias, casas e carros.

Não fujo de mim,

Entrego-me de corpo e alma ao meu ser,

Mergulho profundamente na turvalidade de minha alma,

Poder saber o que eu sou, como eu sei que "esta mesa" não é uma "geladeira".

Não sou o que sou,

Contudo é preciso ser primeiramente alguma coisa

para poder se negar o que não se é!?

"O que é" realmente ser para que eu possa ser algo?

O Nada é o Ser,

O ser é uma pessoa construída,

O ser é uma ficção substancializada,

O ser é o reflexo do Nada,

Pois é só a partir do Nada que o Ser pode Ser alguma coisa.

O Ser não nasce "ser",

O Ser se faz ser;

Porém como algo que não é torna-se depois "algo"?

O ser torna-se em ser?

O ser infiltra em si próprio a necessidade de ser,

Como uma casa vazia que precisa de mobília e eletrodomésticos.

O Ser sente repulsa pela imagem verdadeira, que o projetou diante deste espelho_ o Nada.

O Ser é a máscara colada no rosto do Nada.

Ossos, sangue, carne, e pele escondem o quê?

A matemática pretensiosa de entender a Vida.

Distante do mundo mecanizado,

Perco meu olhar no Vazio.

Mas como, se o Nada é vazio em si?

Se é o Nada tem que ser, por inferência, vazio?!

Nada é vazio;

Logo, não existe vazio.

Meu olhar esbarra em inúmeras ideias.

O Vazio não existe.

Se não existe, como é que acabei de mencioná-lo?

Tudo existe.

Como eu posso ter certeza,

Se eu não sei a abrangência de coisas que estão inseridas nesse "Tudo"?

Tudo é Nada. Mas se é Nada, como pode haver então o Tudo?

O navio está afundando,

Salve-se quem puder,

Por que as mulheres e crianças, primeiramemte?

O perigo da Morte intensifica a vontade instintiva de autoconservação.

Nada faz sentido na vida.

Então o substantivo "Nada" é que constrói o sentido para a Vida?

"Nada faz sentido"

Mas como, se o Nada é a ausência de tudo?

Então a ausência de tudo é que faz o sentido?

Nada faz... Faz?

Como o Nada pode fazer alguma coisa se ele é a ausência de tudo?

Como o Nada pode originar e fazer algo, se o mesmo é Nada?

Nada vezes nada é igual a nada, zero, nulo.

Se Deus sempre existiu,

Então o Nada nunca existiu,

Pois Deus é um ser,

Um ser é alguma coisa,

E se sempre existiu essa alguma coisa então nunca existiu de fato o Nada

[que é ausencia de Tudo.

Dessa forma,

Como Deus criou o universo do Nada

se o próprio nada nunca existiu de fato?

Nada existe.

Claro que existe,

O que ou quem existe? O Nada, sujeito da a

forma verbal "existiu",

E o sujeito sempre é alguma coisa.

Tudo é complicado, pois

Nada é fácil; por conseguinte, nem tudo é complicado.

E se o Nada não é aquilo que se tem imaginado até hoje?

E se o Nada é justamente a Existência de tudo?

Cairia bem na equação Tudo é Nada, e Nada é Tudo.

Em que eu estava pensando mesmo,

Antes do Nada entrar na minha consciência?

O Nada causando efeitos e reações!!!

Como pude pensá-lo, se o Nada é tão somente "nada"?

Todas essas ideias surgiram do Nada.

E o Nada pode fazer surgir alguma coisa?

Meus Deus!

Tudo isso é insano!

A existência expelida do útero do Nada,

Ou o Nada vomitado de um dos ventres conscientizados da Existência?

A Azia da Consciência de tanto Existir.

Mas o que tem a ver o capitão e o navio com todas essas ponderações sobre o Nada?

TUDO,

Simplesmente tudo.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 26/10/2007
Reeditado em 23/10/2021
Código do texto: T710732
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