O espelho

No fino e hediondo portal,

o dúbio eco de uma mulher

soa cardíaco aos meus ouvidos.

Teu timbre exala a degradação rouca,

A voz saí da caverna donde morrem as minhas ideias,

Lá no espaço das projeções.

A mulher definhou em meu espírito.

Ela infla e por vezes retrai.

Vejo-a descamar na falha fertilidade.

Seu esfacelamento evidencia a vida que não chegou.

A matéria que se desfez.

A mulher está dentro dessa lâmina que afunda e atravessa as vísceras,

Conforme forço as retinas para resgata-la,

o corte toca os confins intangíveis, ainda sim, não é capaz de romper nosso cordão umbilical enfermo,

esse que liga-me a mulher que amo em espasmos de ódio criativo.

Mulher, tua lírica me distorce

Teu amor é inalcançável

Fruto da rejeição narcísica.

Tu surgiu das minhas desavenças com esse meu crânio,

Caixa de pandora que faz eco da minha insuficiência.

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 09/11/2020
Reeditado em 09/11/2020
Código do texto: T7107525
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